Penso em palavras enquanto escuto uma pequena melodia a tocar lá distante. O escuro agora é meu amigo e o céu estrelado que observo pela minha janela sorri para mim enquanto continuo pensando em palavras. Estas que vão e voltam, que permeiam minha cabeça e nem sempre me são amigas. As vezes não me acompanham e se perdem dentro de mim. Não se completam e gritam por reticências. Muitas vezes elas me são rebeldes e agora não querem deixar minha consciência. Não querem serem lidas, só ecoadas em meus pensamentos. A trajetória é longa e as palavras querem apenas percorrer o que existe dentro de mim, nadando por entre frases soltas e sem sentidos...

Isso é tão renatiano

se apressa
porque a pressa
só é presente se tens pressa de ser.
eu to com pressa
e quero que se apresse
os dias que a pressa descanse e se disfaça em outras pressas.
se apressa para que o corpo tenha pressa assim como a cabeça ou o tempo
que se apressa mais do que depressa a correr.

se apressa
se apressa
se apressa

se apressa
porque a pressa
só me consome em querer.
confie nessa
e se apresse na prece
para que a pressa mergulhe em outras pressas
ou para que o relógio cesse seu movimento
que se apressa mais do que depressa a me tolher.

Isso é tão renatiano...

e que o tempo passe e traga boa aventurança para o mundo; que as sementes germinem, as folhas cresçam e as flores desabrochem e estejam plenas na primavera; que os pássaros todos possam bater em revoada e seguir seu caminho pelo instinto e desejo do calor; que o céu seja sempre mais azul, o sol o eterno amigo que nos traz a luz diante da escuridão do universo e que ele também seja sempre justo e brilhe para todos, por todos os lados, para qualquer ser, com capacidade de raciocínio ou não, em qualquer lugar; que exista também sempre a noite e a bela lua para nos inspirar e trazer aos corações de todo poeta a magia da palavra, os pensamentos imperfeitos, as sensações desejosas de serem compartilhadas, o silêncio do mundo escondido no escuro e que esse silêncio seja escutado, apreciado, admirado e refletido; que dele seja feita uma melodia, um poema, um desenho, um movimento, um desejo verdadeiro a uma estrela; que o ar nos venha acariciar a face, nos faça sentir a pele e nos presenteie com os mais exóticos aromas; que tudo se transforme, que as águas nos traga bons pressagios e que continue a correr; que os olhos sempre vejam os dois lados, mas que eles sempre vejam o positivo como possível; e que o mundo continue vagando nessa imensidão ainda por se desbravar; que o nada SEJA o nada, que o tudo SEJA o tudo, que o amor SEJA o amor, que o ódio SEJA o ódio, que o começo SEJA o começo e que o fim seja apenas o recomeço...

O Espetáculo

Para alguns leitores que me perguntaram sobre o último post, trata-se do espetáculo que estou em cartaz em São Paulo. As informações sobre o trabalho estão no flyer, publicado aqui mesmo no blog.

Fomos recomendados pela Revista Veja São Paulo. Segue a nota e o link da Veja. Portanto, quem estiver em Sp e quiser conferir, a temporada acaba dia 05 de dezembro.

Veja São Paulo Recomenda


Cia. Artista do Corpo. Liderado pela coreógrafa paulistana Dinah Perry, o grupo consegue, como poucos, combinar de forma eficiente dança e dramaturgia. Uma bailarina e três bailarinos apresentam uma dobradinha de boas peças na tarde de sábado (5), no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt. Por Enquanto..., de Fernando Machado, enfoca os sentimentos comuns a um triângulo amoroso, por meio de passos delicados e inventivos. Atente para Paula Miessa, filha da diretora da companhia. Habilidosa, a artista de 21 anos consegue aliar técnica a graça, além de chamar atenção em cena com frases suspiradas. Na sequência, Ir, pra Onde Ir?, criação da própria Dinah, levanta situações conflitantes de grandes centros urbanos em tons ora sombrios, ora cômicos. Desta vez, quem brilha são os rapazes. A partir de uma disputa por um terno, William Mazzar, Renato Possidônio e o divertido Fernando Delabio desenvolvem embates em gestuais pulsantes e vigorosos.

















O espetáculo está na sua segunda temporada. O espetáculo exige muito trabalho. O espetáculo demanda muito fôlego. O espetáculo requer atenção. O espetáculo é forte. O espetáculo é movimento. O espetáculo é vivo. O espetáculo é contemporâneo. O espetáculo tem boas críticas. O espetáculo quer ser visto e revisto.

potencialidades

Será que todos no mundo tem algum tipo de potencial? Algo a ser explorado e aproveitado para que se tenha uma vida de farturas?

Eu acredito que sim e até me baseio em leis de causa e efeito e outras tantas leis mentais que espiritualistas e estudiosos propagam. São as potencialidades internas do ser humano. Num conceito básico, expressado por Maltz, acredita-se que “Se você pode concebê-lo, você pode realizá-lo", mas não bastasse a força do pensamento positivo, parece que o negativo é ainda mais forte e trava verdadeiras lutas nas nossas mentes e o exercício esta justamente em não perder toda a energia despendida em mentalizar algo positivo com apenas um único pensamento negativo. Além dessa atenção concentrada, é mais do que necessário passar ao campo da ação e colocar em prática tudo o que se imagina.

Portanto, vamos agir e correr atrás do que se quer, porque apenas pensar não possibilitará a vida plena e harmoniosa que todos querem...

Programa de teatro coreográfico



A Cia Artista do Corpo, em parceria com o coreógrafo Fernando Machado, fará curta temporada de um programa intitulado "Teatro Coreográfico" no Espaço dos Parlapatões, em São Paulo. Serão apresentadas duas obras da Cia, divididas em parte 1 e parte 2.
Faz parte do elenco este ser Renatiano que vos fala, além de outros intérpretes.
Espero todos lá!!

Sobre ser feliz e suas receitas

Você costuma usar receitas para cozinhar? Talvez você já tenha usado e descoberto que não basta seguir o que está escrito. Há algum mistério na execução do que vemos nas revistas e jornais, pois nem todas as pessoas interpretam do mesmo modo as indicações. A compreensão é o que prejudica a execução da tarefa. Os chefs incorporam as receitas ou as criam como um cientista cria seu método de pesquisa ou um artista cria seu estilo.
O que ocorre entre a receita e sua realização é um conflito entre teoria e prática. Decepcionar-se é fácil e perder tempo também quando não conhecemos o método e o significado dos ingredientes. Mas toda frustração, mesmo com um guia para fazer bolo, tem seu ensinamento.
Sobretudo quando se trata de uma receita para ser feliz. Ser feliz seria como realizar a receita sem falhas. Todas as sociedades em todos os tempos apostaram na possibilidade de uma imagem da felicidade com legenda, na qual o que é ser feliz estivesse bem explicadinho. Pingos nos is da felicidade como confeitos em um bolo é tudo o que queríamos da vida. Que a felicidade viesse num pacote e, lá de dentro, não precisássemos nem acionar um botão, nem ligar o fogão.
Ser feliz poderia parecer ou ser fácil. No senso comum, o território das nossas crenças mais imediatas, do que é partilhado por todos em ações e falas, ser feliz é uma promessa sempre revalidada. Guimarães Rosa, o lúcido escritor de Grande Sertão: Veredas, dizia, ao contrário, que “viver é muito perigoso”. Aristóteles, que também defendia a felicidade, foi autor da bela frase: “o ser se diz de diversos modos” que podemos interpretar como “a vida pode ser vivida de diversas maneiras.” A felicidade não tem um único rosto.
Immanuel Kant no século das Luzes dizia que só podemos almejar a felicidade, nos tornarmos dignos dela, mas não podemos possuí-la. Com isso ele colocava a felicidade no lugar dos ideais que só podemos imaginar e supor, esperar que nos orientem, mas jamais realizar. Uma receita para ser feliz seria, desta perspectiva, um absurdo.
Se a pergunta pela felicidade, com a complexa resposta que ela exige, já não serve por seus tons abstratos, podemos ficar com a questão bem mais prática do bem viver. Da vida nada parece mais fácil do que simplesmente vivê-la: contemplar o que há, amar quem vive perto de nós, alegrar-se com as conquistas, aceitar as frustrações inevitáveis, lutar pelo próprio desejo, transformar o que nos desagrada buscando o melhor modo possível de pensar e agir. O modo mais ético e mais justo de se viver é o que todos, em princípio, queremos. Um desejo básico que nos une e que, ao ser construído, carrega a promessa paradisíaca da felicidade comum, do bem estar geral. Se procurarmos conselhos e fórmulas para o bem viver não será difícil fazer uma lista de tons e cores que podemos imprimir aos nossos gestos e atos. E ainda que o receituário seja impreciso, é válido.
O meio tom entre inteligência e emoção, entre razão e sensibilidade é a mais inexata das promessas e a mais complexa das conquistas que um ser humano pode almejar para si mesmo. Vale também como uma receita, a receita de um manjar desconhecido. Ela só existe porque podemos fazer do melhor modo possível, usando-a como inspiração. Cada um só precisa saber que cada manjar é diferente do outro. Cada um tem que aprender a realizar, com método próprio, sua própria alquimia. Somos seres gregários, sua receita servirá de inspiração a outros.
Publicado originalmente na Revista BemStar. São Paulo: Editora Lua. Número 15, 2006. página 33.

Isso é tão renatiano...

Agora estava triste. Uma tristeza de mágoa guardada daquelas que não tem como se evitar depois que palavras foram pronunciadas, sílabas que não caberiam à boca, mas que foram todas ditas e articuladas.
Fitava o chão. Olhos fixos, pensamentos perdidos. Talvez tenha confiado demais, talvez tenha mergulhado em outros olhos e tornado-se repetitivo. Talvez tenha apenas se enganado.
Não guarde mágoas pequeno príncipe. Às vezes é difícil. Às vezes, só há vontade mesmo de viajar rumo ao desconhecido. Correr por outros mundos e desbravar esse desconhecido que não deve ser assim tão diferente.
Por que choras pequeno príncipe? Sua rosa não é de plástico, ao contrário do que possam dizer. Seja persistente. Continue sua caminhada. Olhe para as estrelas e encante-as. Contemple o sol e surpreenda-o.

Fake plastic trees

Do Livro

"...E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."

Antoine de Saint-Exupéry

trecho de "O Pequeno Príncipe"

nightmare

sonhos mais do que difíceis hoje. pesadelos com muito choro, discussões, revolta. acho que é a insegurança batendo...

Isso é tão renatiano...

E como sempre a vida não é feita só de alegrias e boa aventurança. Mas também não teria graça se tudo fosse às mil maravilhas e cada desejo se realizasse como num conto de fadas ou pelo fato de estender as mãos aos céus e pedir para o universo. Mágico.
Mágica é a vida que lhe dá oportunidades de aprender com seus erros, de te tornar alguém melhor e de tentar entender o significado das coisas e do mundo. A vida que oferece, permite, ensina e nos presenteia com um lindo pôr do sol todos os dias. Que hora apresenta-se nublada, esfumaçada em perfeito caos e se aproxima dos corações aflitos e nervosos por respostas. Que hora se apresenta clara e azul como uma bela manhã de domingo no parque.
A vida através das pessoas que fazem o nosso dia acontecer, que torcem e nos recebem com um belo sorriso. E que estão lá. Do nosso lado.
A vida é pintada nos tons e cores dos olhos de quem vê. E quando estiver ruim por algum motivo, eu também já aprendi que é preciso calma e foi ela que também me ensinou que tudo vai melhorar.

mais flashmob

mais um flashmob. Black Eyed Peas em Chicago

flashmob

De acordo com o wikipedia:

"Arte de instalações (krafts) é uma manifestação artística onde a obra é composta de elementos organizados em um ambiente fechado. A disposição de elementos no espaço tem a intenção de criar uma relação com o espectador.

Uma das possibilidades da instalação é provocar sensações: frio, calor, odores, som ou coisas que simplesmente chamem a atenção do público ao redor."

acho fantástico o conceito de instalação e, embora ainda muito discutido por não permitir uma rotulação única e pelo seu caráter experimental, sempre gosto de me deparar com alguma. de certa forma fazer parte da obra proposta pelo autor. existe algumas obras que são expostas em grandes centros urbanos e a arte quebra barreiras e faz parte do cotidiano.

outra tendência é a de flashmobs, que definem-se por aglomerações instantâneas de pessoas em um local público para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. não sei se chega a ser definida como arte, assim como as instalações, mas definitivamente uma manifestação artística e popular. claro, que a indústria publicitária também faz uso do flashmob e faz deste recurso uma nova mídia. criativa, curiosa e no final das contas, divertidíssima. quem sabe um dia não bolo um? hehehe

abaixo, vídeo com uma das ações na central station da bélgica, mobilizando mais de 200 pessoas. essa feita por um canal de televisão para promover a participação nas audições para o musical 'The Sound of Music'


só pensamentos soltos

sinto que tenho algo pra dizer, que está na ponta da língua, quase se jogando pelo ar em forma de som. mas está entalado. em algum lugar que possa ir da ponta da língua, garganta ou lá pelo meio do peito. diz que lá fica a alma ou um dos chackras de energia do corpo. é onde eu posso me olhar por dentro, pensar nas minhas condições, meu abrigo do mundo.

Isso é tão renatiano...

Estava cansado. Mas com uma sensação gostosa de cansaço. Uma felicidade contida que se perdia entre as poucas pessoas que por mim passavam na rua. A noite estava quente, a falta de luzes nos prédios já denunciava que muitos dormiam e eu ainda caminhava. Cansado. Passos largos e precisos, pesados, querendo apenar seguir. E na mente, um pensamento constante, uma cobrança de não sei o quê, mas ela existia. Existia e existe. Sei o que é, mas...é uma cobrança de não sei o quê, entende?
Queria um sinal.**
Ainda perdido nos pensamentos, sinto a presença de um corpo. Um jovem, loiro, olhos pequenos, roupas sujas, barba. Ele queria uma moeda que fosse. Não tinha. Ele então insistiu e disse que era apenas pra um cigarro.. Também insisti. Ele foi caminhando comigo e pediu que eu falasse o nome de alguma forma, um desenho, objeto. Estrela. Ele, que tinha também uma mochila nas costas e um arame entre as mãos, tirou um alicate do bolso e começou a fazer uma estrela com o arame. De forma estilizada. Pequena. Simples. Continuamos andando, agora sem muita conversa. Ele estava concentrado. Cortou o arame e me mostrou a pequenina estrela. Estendeu a mão e me deu a estrela. Disse que eu poderia usar como porta-incenso se quisesse. Aceitei a estrelinha. Mudamos de direção entre as ruas. Agradeci e disse thau. Ele retribuiu e seguiu o seu caminho, por outros caminhos...

sabe aqueles dias que você pensa, pensa e pensa e acha que nada está muito certo? não sei se todo mundo tem isso, mas parece que hoje, quanto mais eu penso, menos eu sei. mas também, saber do que? e pra que?
hoje eu tava assistindo uma espécie de documentário sobre curas espirituais. ainda to com a imagem da mulher que atravessou o continente para fazer uma cirurgia espiritual aqui no brasil. por volta dos 50 anos (ou menos, porque os medicamentos e quimio fizeram com que o seu corpo se abatesse rapidamente). o fato é que ela desistiu do tratamente médico e veio fazer a cirúrgia espiritual numa decisão definitiva. ela disse que preferia tentar essa opção, ainda que fosse a última, do que viver envenenada pelos remédios, com uma sobrevida de pouquíssimos anos. o seu médico já havia dito que nada mais poderia ser feito. inconformada, ela veio. e veio cheia de fé. arrumou forças e veio fazer o tal tratamento cirúrgico. ela seguiu todo o tratamento a risca, acreditou cegamente naquele curandeiro e mais, acreditou na sua cura. ela veio acompanhada do marido. precisou fazer uma espécie de quarentena depois de ter se submetido a cirurgia espiritual. os dias foram passando e sua resistência foi diminuindo. o curandeiro disse que agora, naquele ponto, ela devia procurar a ajuda de médicos porque era o que ela precisava naquele momento e que antes do final da quarentena ela estaria bem. ela correu. partiu de novo para a quimio, mas mesmo se sentindo mal, disse que a energia do lugar, as pessoas e toda a história faziam com que ela ja se sentisse curada. após mais alguns medicamentos, já melhor, e visivelmente renovada, ela voltou para o seu país e refez todos os exames. o médico a parabenizou e disse que o seu problema havia se estagnado, mas que por se tratar de doença complicada, somente os próximos meses diriam exatamente se haveira chances daquilo voltar.
ela respirou aliviada, deu um leve sorriso e chorou. um choro contido, um alívio. em mim passou uma força em lutar, em querer viver. ela acredita que teve que passar por tudo isso e que a cirurgia espiritual a curou. depois, médicos e especialistas discutiam, não só o caso dela, mas o de várias pessoas que são curadas por essas vias de tratamento e não chegaram a uma resposta, óbvio.
mas o discurso de que a fé é a grande propulsora, a protagonista para que tais atos funcionem era visível. que capacidade que o ser humano tem! será que a força está em nós mesmos ou no mundo, nas energias? ou será mesmo tudo uma troca e as duas perguntas estejam corretas?
por que será que alguns passam momentos tão difíceis com a saúde, por que outros passam momentos complicados com a família, com pessoas que amam, com injustiças. impossível não pensar naquele dito popular de que cada um carrega a sua cruz. e carrega para aprender, mas aprender tanto pra que? pra onde cada um vai levar todo esse conhecimento. eu tenho minhas crenças e por isso quero sempre aprender. espero que aquela mulher esteja bem...

Isso é tão renatiano...

Alguns pensamentos soltos e imperfeitos tomam a mente. A cidade continua cinza e fria, bem diferente dos sonhos. Um palácio imenso, colorido, com criaturas irreais, pássaros e pequenos dragões a defender todas as entradas do espaço, janelas amplas e pontiagudas para o teto, tudo em pedra sólida e pesada. Navega-se no ar numa pequena barca de madeira pintada com ornamentos em dourado. Por entre os halls e corredores, cordas coloridas e um outro material semelhante a borracha dão o tom do lugar. Verde, azul, amarelo e vermelho são as cores de destaque, que definem tudo como uma pintura impressionista. Os pássaros e dragões sobrevoam todos os ambientes e dão vôos rasantes entre os objetos, pousam no barco e causam um certo receio, uma vertigem. Num sobressalto uma grande pantera avança em direção à pequena nau e com toda elegância e impetuosidade felina sobe no barco, rugindo e espanta todos os dragões. Não há mais receio. Nem mesmo com o comportamento agressivo da pantera de pêlos negros e brilhantes. Ela olha pra mim. Retribuo o olhar. Os dois agradecem. A viagem segue. No barco encontra-se eu, meus pais, a pantera que desaparece rapidamente e o comandante que nos leva por entre os corredores. Ele veste uma imensa tunica vinho e lilás, de manga longa e boca comprida, até o chão. No rosto, o contorno de uma barba comprida, até o pescoço. Na cabeça um chapéu de corte reto e redondo, apenas cobrindo os cabelos. Tem os olhos puxados e a pele amarelada como um monge tibetano. Ele está tranquilo a tudo, nos mostra cada detalhe do palácio. A viagem termina, descemos da embarcação que flutua a poucos metros do chão. O dia está lindo, ensolarado e todas as folhas do jardim são verdes, intensas. Tudo reflete a luz do sol. Na sala que estamos, imensos tecidos de cores quentes estão estendidos nas paredes. São bordados em pedras. Estamos esperando alguém. Uma mulher surge entre uma das janelas e sorri, ela tem o semblante de pessoa arteira. É madura e de cabelos curtos e vermelhos. Veste calça e bata amarela. É simpática. Desaparece tão rápido quanto surge. Logo, chega quem estamos esperando. Cabelos brancos, corpo robusto, pele morena. Roupas brancas. Ele cumprimenta a todos, menos a mim. Conversamos, todos. Eu ainda um pouco distante. Um outro rapaz anda pelos corredores. Jovem, pele amarelada, cabelos curtos, nariz definido no rosto. Veste uma tunica semelhante ao do comandante da nau, porém menos volumosa. Nos pés uma sandalha de couro. Diz alguma coisa. O tempo todo, os dragões e pássaros estão presente. Só a pantera que tanto admirei não está mais por ali, desde o barco. O rapaz continua a caminhar pelos corredores coloridos. Ele fala algo para o comandante e vai embora pelo mesmo corredor que veio. Conosco, o homem de roupas brancas, o comandante e a mulher que ora surge e ora desaparece. A sala é imensa, toda em pedra. Das janelas igualmente suntuosas, o sol irradia a luz. O dia é calmo como tardes de primavera. Enquanto caminhamos pela sala, conversamos como amigos que não se encontram há tempos. Seguimos pelo corredor. Agora a pé. Eu e meus pais vestimos roupas brancas. Um espécie de bata e calças. Parece que vamos nos hospedar por um tempo. Reina a calma. Páro e penso em tudo que vi. Fico admirado. O homem de branco chega com um sorriso acolhedor e continuamos todos a caminhar.

Então

Então, é primavera.
Primavera com cara de inverno ainda
Chuva caindo por todos os lados da cidade
Cortina de nuvens bem densas
Deixando o sol escondido
Sol, venha saudar a primavera
Então, é primavera.

Isso é tão renatiano...

Abriu os olhos. tudo ainda era contornado pela pouca luz das primeiras horas da manhã. Escutava o silêncio e sentia aquele ar de preguiça tomar o quarto, a casa, as ruas, a cidade... Queria voltar a dormir. Pensava quase que hipnotizado pela idéia. Cerrava as pálpebras e permanecia longos segundos com elas fechadas. Num instante, recobrou os sentidos e abriu os olhos novamente. Inspirou. Levantou. O corpo ainda moído. Quis expreguiçar. Novamente tomou uma dose de ar e desamassou seu rosto enquanto pensava em como era bom não estar frio naquela hora. Não gostava de acordar cedo em dias frios. Seus ossos reclamavam e sentir-se hipnotizado pelo sono era comum. Olhou pelo vidro da janela. A imagem parada como a de uma fotografia. A cidade ainda sem aquela coloração habitual de comecinho de manhã. Sentiu vontade de não sair. Só sentiu. Lavou seu rosto. Se viu no espelho e desejou um bom dia a si próprio com o olhar. Deixou a água escorrer pela torneira. Deixou a água escorrer no box. Deixou a água escorrer no seu corpo. Quente. Preparando-o para o longo dia. Olhou-se no espelho mais uma vez. Agora não mais com aquele aspecto abarrotado. Estava pronto. Estava inteiro. Estava recomeçando. Olhou pelo vidro da janela novamente. Olhou agora com mais atenção. A cidade ainda como retrato. Mas um retrato que pode ser mudado, que pode ganhar cor, cheiro, vida. Bastam as horas se encarregarem disso e deixar a vida seguir seu curso. Curso este que sua vida já iniciara naquelas primeiras horas da manhã. Veio uma sensação gostosa. Não soube explicar. Mas gostou do que sentiu. Esboçou um pequeno sorriso. E preparou-se para começar a mudar aquele retrato.

Kid

Vou ser pouco original nesse fim de semana preguiçoso com feriado e posto a letra de uma música bem interessante. eu to tentando...como acredito que todo mundo tenta também!
é isso ai. eu to tentando ser feliz.

Eu tô tentando largar o cigarro
Eu tô tentando remar meu barco
Eu tô tentando armar um barraco
Eu tô tentando
Não cair no buraco...

Eu tô tentando tirar o atraso
Eu tô tentando te dar um abraço
Eu tô penando
Prá driblar o fracasso
Eu tô brigando
Prá enfrentar o cagaço...

Eu tô tentando ser brasileiro
Eu tô tentando
Saber o que é isso
Eu tô tentando ficar com Deus
Eu tô tentando
Que Ele fique comigo...

Eu tô fincando meus pés no chão
Eu tô tentando ganhar um milhão
Eu tô tentando ter mais culhão
Eu tô treinando prá ser campeão...

Eu tô tentando
Ser feliz (Ser Feliz!)
Eu tô tentando
Te fazer feliz...

Eu tô tentando entrar em forma
Eu tô tentando enganar a morte
Eu tô tentando ser atuante
Eu tô tentando ser boa amante...

Eu tô tentando criar meu filho
Eu tô tentando fazer meu filme
Eu tô chutando prá marcar um gol
Eu tô vivendo de Rock'n Roll...

Eu tô tentando
Ser feliz (Ser Feliz!)
Eu tô tentando
Te fazer feliz...

Isso é tão renatiano...

textos, textos e mais textos. minha vida escrita e descrita,
textos, textos e mais textos. estruturada em parágrafos, sentenças e pontuação.
textos, textos e mais textos. meus olhos vidrados nas janelas do computador,
textos, textos e mais textos. embaçados e avermelhados.
textos, textos e mais textos. meus dedos cansados,
textos, textos e mais textos. de movimentos repetidos.
textos, textos e mais textos. minhas mãos trabalhando,
textos, textos e mais textos. em ritmo acelerado.
textos, textos e mais textos. palavras que vêm e que vão,
textos, textos e mais textos. palavras, palavras e mais palavras...

Isso é tão renatiano...

>chuva chover
"quero que a chuva caia e molhe todas as folhas do quintal
para que assim, enquanto choram,
a água limpe as pétalas, ramos e caules;
que se renovem todas as flores
e que brilhem quando o sol chegar e irradiar luz por entre o jardim.
que se aqueçam de novo e deixem o que é passado lá em algum lugar
por entre a terra umidecida de lágrima recém caída."

ai ai

será que tudo tem que ter um por que???
to cansado de ouvir coisas do tipo "acredite em você" ou "pense positivo" ou qualquer outra coisa do tipo....o mundo gira, cada vez mais rápido, e se você piscar, passam por cima mesmo.
isso tudo só me cansa...

Isso é tão renatiano...

O mundo continuava a girar e lá pelos lados de terras tropicais os primeiros raios de sol começavam a clarear o novo dia, acordando seus moradores de casas e prédios com o céu azul intenso que há tempos não se via. A cidade ganhava cara e os raios ainda que calmos como devem ser em todo inverno, explodiam em alegria nos que de manhã saiam.

A mesa ainda posta, o café recém passado e o pão quentinho o convidavam para o lindo dia que se apresentava diante de seus olhos pretos como dois diamantes negros intensos.

O dia ganhava ali, nos primeiros minutos, uma cara de tranqüilidade, de bossa nova, de balada calma e seu coração de repente, inundou-se de uma sensação tão gostosa quanto aquele pão recém amanteigado. Queria gritar ao mundo suas palavras, dançar entre as pessoas, ter certeza de que todos o escutavam e recebessem aquela dança como um presente fraterno.

“Levantem-se, dancem e celebrem a bela manhã. Acordem e recebam o novo dia com alegria. Que todos se permitam ter seus corações repletos de paz e esperança de novos rumos, novos universos. Sintam o ar da bela manhã a inundar seus corpos e reanimar suas partes dormentes. Despertem para a nova estação e retribuam a vida com o que tenham de melhor. Sejam plenos e nunca rasos.”

Queria gritar suas palavras de novo, mesmo não sabendo exatamente o que pudesse dizer. Queria ao menos que o ouvissem, na sua língua ininteligível, de contos escritos, de terras distantes do seu ser. E mesmo que não o entendessem entre sílabas e fonemas, essa língua não se explica. Ela é ela. Ela é ser. Ela se faz entender por todos, mesmo quando cochichada ou gritada. Mesmo quando propagada pelos quatro cantos ou mantida em segredo. Ela é um gesto, um olhar. É sentimento. É universal. Não há homem que não a entenda.

Molhou sua boca com café preto e sentiu um acréscimo de esperança tomar seu corpo. Enfeitou sua face com um largo e belo sorriso e adiantou-se para desbravar as esquinas da sua cidade. Queria mais e sabia que podia mais. Sempre mais...

Brainstorming

Algumas idéias que percorreram minha cabeça durante algum tempo e que me ajudaram a construir uma história bem interessante. O resultado é o roteiro de um curta, que ainda precisa de adaptações:
1. Nascemos homens e mulheres ou nos fazemos homens e mulheres?
2. No paraíso, Eva é a figura incompleta por ter sido feita da costela de Adão, e, portanto, estabelece-se uma relação de subserviência desde histórias remotas. Não só isso, Eva é culpada pela expulsão do paraíso por provar do fruto proibido, a maçã.
3. foi Pandora, uma mulher, que não resistiu à curiosidade e abriu a caixa que trouxe os males ao mundo.
4.O início do movimento feminista organizado é atribuído ao sufragismo do século XIX. A própria palavra “feminismo’ surgiu nessa altura.
5. “As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural.”
Virginia Woolf

Mude

Transforme, corrija, experimente coisas diferentes, reveja alguns conceitos e tente mudá-los. Conheça novas culturas, corra mais, brinque mais, ria simplesmente por rir. Experimente o doce, o salgado, o amargo, o azedo. Corra menos, dance, dance muito. Chore, mas abra um sorriso logo em seguida. Acredite na vida, nas pessoas, em você, em Deus. Melhore, se renove, se reinvente. Leia mais, leia muito mais. Mergulhe em águas geladas, experimente novos sabores. Descubra novos lugares. Mude, mude sempre.

Pra entender

Descobri só depois de um tempo. mas no meu aquário aqui do blog, qualquer pessoa pode alimentar os peixes. basta clicar com o mouse em cima dos peixinhos que a comida será espalhada. É até relaxante, rsrsrs

Isso é tão renatiano...

- Você iria no meu enterro?
- Eu não.
- Por quê?
- Porque morrerei primeiro do que você.
- E como sabe disso?
- Eu sinto!
- Pois se você for primeiro, eu irei no seu enterro. Mesmo que isso cause a maior dor do mundo. A dor de ver os seus sonhos, o seu caráter, os seus sentimentos, o seu amor por mim e pela vida apagados. De saber que aquele brilho intenso de vida e aquela chama tenham se esvaído e não sobrado nada. Mas precisaria ver isso para ter certeza e poder acreditar que acabou. Que tudo acaba.
- Pois eu não veria toda a sua vida esvaída. E saiba que nunca é em vão. Que o amor construído e que a trajetória vivida se somam e o tornam melhor. Engrandece a alma e transcende o corpo. A morte é metáfora. Uma renovação para o amanhã. E o amor nunca morre. Portanto se eu for antes de ti, pense na felicidade que estarei por ter chegado ao momento da renovação e de que nos encontraremos... sempre.
- Então você não sabe se irá antes de mim?
- Não. Mas sei que a alma não acaba nunca e o que quer que tenha vivido, se em acordo com o caráter, haverá valido a pena.
- Então que não nos condenem.
- E não irão. Você ainda terá certeza de que não há problemas nisso.
- Você tem tanta certeza.
- Por que você é parte da cura e não a doença.
...

Confirmado

A Coletânea "Celebration" terá lançamento dia 28 de setembro nos EUA e um dia depois no resto do mundo. Conta com músicas escolhidas pela própria artista e pelos fãs e ainda com um trabalho de arte muito lindo feito pelo artista Mr. Brainwash, bem ao estilo popart.
Conta ainda com um Dvd com vídeos nunca lançados no formato.

Antes - durante - e depois de Immaculate Collection eu nunca gostei das coletâneas dela. Acho tão sem criatividade colocar todas as músicas sem nenhuma novidade em um album novo. Espero que essa me impressione....mas pelo menos terá videos!!

Mais Madonna

Acabei de ler no Site da Érika Palomino sobre o lançamento de mais uma coletânea da Madonna, "Celebration" para comemorar seus 50 anos. Além disso, o lançamento de uma suposta faixa inédita.
Já circula pela internet o remix, "Celebrate (Paul Oakenfold Dub Remix)", e pode ser ouvido direto pelo site da erika. Clique Aqui

O conteúdo da coletânea, assim como a data de lançamento oficial, ainda não foram confirmados pela gravadora, mas os fãs ainda devem contar com uma segunda inédita, "Revolver".

É só esperar agora...

Como os sentimentos foram nomeados?

Como os sentimentos foram nomeados? Aliás, como somos capazes de sentir o que quer que seja e reconhecer nesse mínimo tempo de impulsos cerebrais o que se passa dentro de nós e que toma conta de todo o corpo como se fosse explodir e vazar por todos os poros? É humano, forte e real. Tão real como ver suas mãos diante de seus olhos. Olhos estes que mesmo com explicações cientificas e biológicas dos seus funcionamentos, permitem que cada um possa enxergar o mundo a sua maneira e colori-lo individualmente. Como você enxerga o mundo? Que cor tem sua felicidade?
Para mim sempre teve cor de sonhos. Dos mais doces e fortes.

Palavra de mulher

Taí um musical bem brasileiro. O album da Ópera do Malandro todo é lindo, mas gosto particularmente dessa música e da interpretação da Alessandra Maestrini.




Palavra de Mulher

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar

Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor eu, vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar

Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
Espera
Me espera
Eu vou voltar

Algo acontecendo

Algumas idéias na cabeça tomando corpo. Espero que dê tudo certo e que seja muito lindo

Tanta saudade...


Saudades da década de 80, dos brinquedos da infância, de tardes intermináveis, de fugir do ônibus da escola, de mergulhar na lama, de tentar soltar pipa, de comer bolinho de chuva, de estourar pipoca e assistir sessão da tarde, de recortar palavras em jornal, de esperar meus pais em casa, de ter medo do escuro, de brincar com meus cachorros, de me esconder embaixo da cama dos meus pais; saudades do bolo de côco da maria, do biscoito da minha vó, das tardes de sábado, do clube...
Saudade, sentimento estranho. To saudosista hoje.

Foucault

Basta eu acordar, diz Foucault, que não posso escapar deste lugar, o meu corpo.

Posso me mexer, andar por aí, mas não posso me deslocar sem ele. Posso ir até o fim do mundo, posso me encolher debaixo das cobertas, mas o corpo sempre estará onde eu estou. Ele está aqui, irreparavelmente: não está nunca em outro lugar. Meu corpo é o contrário de uma utopia. Todos os dias, continua Foucault, eu me vejo no espelho: rosto magro, costas curvadas, olhos míopes, nenhum cabelo mais… Verdadeiramente, nada bonito. Meu corpo é uma jaula desagradável. É através de suas grades que eu vou falar, olhar, ser visto. É o lugar a que estou condenado sem recurso.

É possível que contra esse corpo tenham nascido todas as utopias, dele nasce a utopia original –a de um corpo incorporal: o país das fadas, dos elfos, dos gênios, onde as feridas se curam imediatamente, onde caímos de uma montanha sem nos machucar, onde podemos ficar invisíveis.

Há outra utopia dedicada a desfazer o corpo é o país dos mortos. A múmia é o corpo utópico que desafia o tempo. Há as pinturas e esculturas dos túmulos, que prolongam uma juventude que nunca vai passar, que será eterna. Meu corpo se torna sólido como uma coisa, e eterno como um deus.

A outra, a maior utopia criada contra o corpo é o grande mito da alma, que funciona maravilhosamente dentro do meu corpo, mas escapa dele. É bela, pura, branca, ao contrário do meu corpo. Durará para sempre. É meu corpo luminoso, purificado.

Assim, pela mágica dessas utopias, meu corpo pesado e feio desaparece magicamente. Recebo-o de volta fulgurante e perpétuo.

Mas meu corpo, nele mesmo, seus recursos próprios de fantástico. Tem lugares sem-lugar. Tem seus lugares obscuros e praias luminosas. Minha cabeça é uma estranha caverna, com duas aberturas, meus olhos. E, se as coisas entram na minha cabeça, ficam ao mesmo tempo fora delas.

Corpo incompreensível, penetrável e opaco, aberto e fechado: corpo utópico. Absolutamente visível –porque sei o que é ser visto e ver os outros. Mas esse corpo é também tomado por uma certa invisibilidade: minha nuca, por exemplo. Minhas costas: conheço seus movimentos, sua posição, mas não as vejo. Corpo que é um fantasma, que só posso ver pelo truque, pela miragem de um espelho.

Esse corpo não é uma coisa: anda, mexe, quer, se deixa atravessar sem resistências por minhas intenções. Só quando estou doente –dor de estômago, febre– ele se torna coisa, opaca, independente de mim.

Não, o corpo não precisa de fadas e almas para ser utópico, visível e invisível, transparente e concreto. Para que eu seja utopia, preciso apenas ser… um corpo. As utopias não apagam o corpo: nasceram dele, para só depois, talvez, voltarem-se contra ele.

Uma coisa, entretanto, é certa: o corpo humano é o ator principal de todas as utopias. O sonho de um corpo imenso, o mito dos gigantes, de Prometeu, é uma utopia. O sonho de voar também.

O corpo é também ator utópico quando se pensa nas máscaras, na tatuagem, na maquiagem. Não se trata, aqui, propriamente, de adquirir um outro corpo, mais bonito ou reconhecível.

Trata-se de fazer o corpo entrar em comunicação com poderes secretos, forças invisíveis. Uma linguagem enigmática e sagrada se deposita sobre o corpo, chamando sobre ele o poder de um deus, a força surda do sagrado, a vivacidade do desejo. Fazem do corpo o fragmento de um espaço imaginário, que entra em comunicação com o universo dos outros, dos deuses, das pessoas que queremos seduzir.

O corpo é arrancado de seu espaço próprio e arremessado a um outro espaço. As vestimentas religiosas, por exemplo, fazem o indivíduo entrar no espaço cercado do sagrado, ou na comunhão da sociedade. Tudo o que toca no corpo, uniformes, diademas, faz florescerem as utopias internas do corpo.

E a carne nela mesma pode ser também utópica. Faz o corpo voltar-se contra si: o outro mundo, o contra-mundo, penetra nesse corpo, que se torna produto de seus fantasmas: o corpo de um dançarino, por exemplo, é um corpo dilatado pelo espaço –espaço que lhe é interior e exterior ao mesmo tempo. O corpo do mártir acolhe a dor e a salvação. O corpo de um drogado, de um possuído, de um estigmatizado, recebe em si o que lhe é exterior.

Bobagem dizer portanto, como fiz no início, que meu corpo nunca está em outro lugar. Meu corpo está sempre em outro lugar. Está ligado a todos os outros lugares do mundo, e está num outro lugar que é o além do mundo. É em relação ao corpo que existe uma esquerda e uma direita, um atrás e um na frente, um embaixo e um em cima.

O corpo está no centro do mundo, nódulo utópico a partir do qual penso, sonho, me comunico. O corpo, como a Cidade de Deus, não tem lugar, e é de lá que se irradiam todos os lugares possíveis.

Apenas o espelho e o cadáver selam e calam essa voragem utópica. Os dois estão num outro lugar impenetrável, mas nesse momento já não sou eu mesmo. Para que eu seja eu mesmo, no meu corpo, sem utopia, é preciso uma situação bem definida. Só o ato amoroso, quando nos entregamos a ele, acalma a utopia do nosso corpo: por isso é tão próximo, no imaginário, ao espelho e à morte. É porque só no amor o meu corpo está AQUI.

Isso é tão renatiano...

O Caminho


O mundo girava diferente naquele outono. Corria pelo ar a brisa típica dos finais de tarde, seguida por tapetes de folhas secas ao longo do caminho que se estendia diante de seus olhos até o horizonte. Certo frio tomou conta de seus poros e sentiu, ali, naquele momento, um arrepio em todo o seu corpo, saltando em sua pele pequenos poros eriçados, numa intensa e sutil dança do seu organismo humano, limitado e perfeito em sua estrutura interna organicamente saudável e lapidada através da sua evolução, passando de ancestrais a ancestrais, formado por sangue e laços que nem sempre soube entender ou explicar a si mesmo.

O caminho permanecia imóvel ostentando um ar eloqüente de que por ali ele cumpria o seu único destino de servir para que pés descalços ou com sapatos simples ou elegantes, de couro ou borracha forte e pesada, com tiras, fechos, cadarços, em lona, altos, baixos ou simplesmente os que detêm a função de calçar pés tortuosos e cansados, pudessem cruzá-lo. Longo e direto. Enfeitado com pedras que se assemelhavam aos poros arrepiados que a esse ponto já adormeciam em sua pele alva, macia e jovem. Há tempos ele pensava em pisar de forma objetiva e traçar o espaço que dali não se arredaria, mas que o estimulava simplesmente a vencê-lo. Olhando de uma visão privilegiada, nem lhe metia medo, só conseguia mesmo era sentir o furor da sua carne jovial ansiosa em gritar aos seus pés para que corresse em linha reta, ouvindo o estalar das folhas secas se quebrando no concreto, enquanto a brisa leve batia-lhe no seu rosto, permitindo que lembrasse sempre de que estava vivo e respirava. Que dádiva. Inspirar um pedaço, ainda que não palpável, do mundo. Permitir que por entre suas narinas a vida seguisse o seu curso e que nesses milésimos de tempo, ainda que pulsante e forte dentro de si, uma força mantivesse-o parado diante das pedras batidas no chão e do tapete marrom que o cobria. Sentia o impulso. Entretanto, maior do que ele era sua incapacidade de mandar o estímulo para que seus pés entrassem num ritmado movimento, um ante o outro, para que dali saísse desse insuportável minuto. Pensou se antes dele, havia parado ali naquele lugar algum corpo claro, alto e esquio, como o seu. Se também esse outro ficou estático enquanto suas veias percorriam todo o seu corpo, culminando, como um vulcão em erupção, em sua face rubra. Tudo parou. O mundo estava mais devagar, mas seu corpo não correspondia àquilo. Sua cabeça codificava impulsos. Seus lábios sutilmente entre abertos, seus ouvidos atentos, seu pulso em harmonia com seu peito batia acelerado. Mas a sua volta o tempo era outro. Os segundos se estendiam, o ar parecia lhe faltar e o caminho continuava soberano; agora mais assustador do que antes. Inundou seus pulmões, sentiu o oxigênio dentro de si. Quis segurá-lo por um tempo incalculável. Fechou seus olhos e devolveu à Terra o ar, que tão prontamente Ela havia lhe dado, envolto num grito agudo, desesperado e único. Ouviu a si mesmo, ao eco, ao grito indo embora longe e desejou seguir. Passou levemente a mão em seu rosto. Quis um sorriso entre os lábios que veio sem esforço. O mundo parecia girar como antes. Respirou mais uma vez profundamente enquanto ordenava o movimento dos seus pés. Andou. Passos curtos seguidos de passos certos e continuou seu caminho, já com um olhar mais tranqüilo e sereno.

Isso é tão renatiano...

Pois bem

Para tantos, qual a resposta de “o que vale na vida?”

Muitos diriam com certeza que é a amizade, sinceridade, felicidade e qualquer outra palavra sentimentalóide terminada em “ade”; sem esquecer, por certo daquela palavrinha que é tema de novelas, filmes e épicos literários. Sim caríssimos, estou falando do amor. Olha que lindo! O amor que faz todo ser humano levantar de manhã e ter forças pra seguir com o dia. O amor que se enxerga no sorriso de seus familiares, na beleza do dia que acaba de nascer, nos pássaros cantando, na beleza da vida. Ah, que poético! Isso até me comove. O amor é realmente lindo, mas não enche barriga. Quem que dizia isso? Ih, não sei direito, mas acho que sempre ouvi isso da minha mãe. Sábia! Amor não enche barriga e nem sequer ajuda a pagar um plano médico caso você tenha uma cólica intestinal no meio de uma noite chuvosa e solitária. Mas reconforta. Te faz sentir querido e com forças para continuar. Mas esse mesmo amor também exerce pressão. É por amor, a você e às pessoas que você ama, que você tem que ser digno, que você tem que ter caráter e que você tem que proporcionar uma bela vida aos filhos, passar valores, oferecer educação, construir um ser humano sóbrio no sentido mais literal que essa palavra passe. Você precisará também reconfortar os mais velhos e possibilitar uma vida repleta de conquistas. Conquistas, ao meu ver, não só sentimentais por que lembrando lá aquele ditado sábio: “amor não enche barriga”. E é por essa pressão da família e pressão própria/interna que nos voltamos pra outro valor, esse sim capitalista. Só em português nós temos uma infinidade de sinônimos. Vamos lá? Dim dim, tutu, bufunfa, faz me rir, bolada, grana, graninha, verdinha, as importadas “cash e Money”, capital, dinheiro, dinheirinho...

Por cifrão a gente corre atrás e trabalha, produz, compra e emprega tudo para engrandecer o amor. É por conta dele que sei que para os italianos a palavra original é no plural (soldi); espertos os italianos: pense em fartura e nunca em uma nota só. E é por conta do soldi que tenho a lucidez para escrever esse texto e até para pensar na condição limitada humana. Irônico isso, não? É necessário correr atrás de um para suprir o outro.

E chego a outra pergunta. Para que lado correr? Amar demais algo e depositar toda sua energia sobre aquilo a ponto dos seus pensamentos só focarem a conquista dos objetivos, ou batalhar e viver a labuta diária para conseguir alguns trocados, deixando a vida te levar para rumos que talvez nunca tenham sido imaginados por você? O fato é que tudo é orgânico. A vida não pára para que possamos pensar e bolar uma estratégia. É tudo feito enquanto o tempo está passando e fico com a impressão de que a certeza de que se teve sucesso venha só com a velhice mesmo. Ou talvez com a morte. Mas daí, de que vale? Você nem vai poder pensar a respeito, ou talvez sua consciência espiritual possa voltar e olhar o que se traçou ­­; eu até acredito! Na velhice, veja bem, por amor a você mesmo é óbvio que você vai alardear para todos que valeu a pena. Afinal, quem quer se sentir um derrotado? E depois tem ainda a condição de acomodação humana: “a gente não tem outro tipo de vida, fica com aquele mesmo”.

Ainda não consigo responder essas questões. Ouvi tantos “nãos” esse ano que perdi a conta. Mas aprendi com cada um deles, com cada experiência e fico muito feliz por ter a possibilidade de poder ir atrás deles, por que fazem parte dos meus objetivos e dos meus anseios profissionais. Mas todos eles colecionados na estante da minha vida ficam guardados com certa amargura por uma expectativa quebrada e medo de não conseguir. Medo do tempo passar e eu não ter feito nada e não ter conquistado nada. Hoje foi mais um dia de “não” resposta para mim. Mais uma vez expectativas quebradas em um segundo, mais uma vez a preocupação de não atender o tamanho investimento que me fazem até hoje. Mais uma vez a impossibilidade do começo das minhas estratégias. E mais uma vez, a insegurança de não ter a certeza de nada e não ter o controle de nem um passo da minha vida.

Como o universo é irônico, ainda escolho uma profissão que tem em seu repertório uns 80% de tema onde se aborda o amor. Que sublime! E é por ele que eu vou continuar...Mesmo que me levo à loucura em alguns dias quando peso na balança se sou um bom investimento, com um retorno certo e próspero.

Dança Contemporânea

Dreams

Fico bem intrigado com sonhos. Sempre fico pensando se eles querem dizer alguma coisa. Mas, se quisessem, de que adianta? Será que podemos mudar alguma coisa por conta do aviso de um sonho??
Que Jung me ajude...

Ainda sobre Pina...

Dei uma passada no Blog do Gerald Thomas e encontrei um artigo dele publicado na folha sobre a morte de Pina. Vale a pena ler

http://colunistas.ig.com.br/geraldthomas/2009/07/01/morre-pina-bausch-essa-que-todos-nos-invejavamos-e-amavamos-tanto/

"Como todo gênio, será estudada, amada e reverenciada pelas décadas que virão." - Gerald Thomas.

Segue...

Cheguei a pensar em comentar sobre a morte do Michael Jackson, mas achei que não deveria escrever nada a respeito. Muito já se tem falado sobre isso. E muito já se tem especulado sobre tudo isso. O talento dele é inegável e mesmo os que não gostavam da sua música, acabam por reconhecer sua importância na atualidade. Deixar um trabalho assim é bastante nobre.
Mas não poderia deixar de falar no que o mundo comenta, para poder falar sobre outra perda, menos comentada, mas igualmente grande. Pina Bausch foi grande. Mulher criativa que revolucionou o mundo artístico e quebrou barreiras do teatro e da dança. Dirigia o Tanztheater Wuppertal na Alemanha e produziu muito. Pina Bausch já ganhou numerosas congratulações ao longo de sua carreira, entre eles o prêmio em Kyoto, 2007, frequentemente considerado como o Nobel das Artes. Ela foi condecorada por seu trabalho revolucionário na arte do teatro, por romper as barreiras entre dança e teatro e propor um novo rumo na arte teatral.
Eu que me enveredo pelos caminhos da dança-teatro e descubro a beleza disso tudo, fico triste pela perda dessa artista, mas com a esperança do seu legado continuar e que mais e mais essa arte contemporânea seja vista e aplaudida.

Em setembro o Tanztheater Wuppertal viria a São Paulo.


Coisas tristes não deveriam ser comentadas

Coisas tristes não deveriam ser comentadas. deveriam ser assimiladas e guardadas. Não esquecidas por que todas elas são marcas do caminho e deve-se respeito a isso. Mas guardadas na lembrança. Acho mais fácil superar se permanecer o silêncio. Ele ajuda à reflexão e acho que é capaz de dar mais centro. Mas a palavra também é importante e ela deve cumprir o destino de ser verbalizada. Não no centro do furação; não enquanto estamos colhendo os cacos e juntando os pedaços, mas depois de tudo assimilado e, aí sim, repartir com mais propriedade o que se pensa e sente.

Isso é tão renatiano...

Quando o céu ficou pequeno para tantas janelas? Quando contar estrelas passou a ser menos interessante do que contar janelas iluminadas? Janelas que varam a madrugada e têm a insônia como parceira e segredos guardados. Palavras nunca reveladas. Mundos escuros, música baixa, talvez o barulho do vento entre os vãos dos prédios. O que será que cada uma guarda? Qual dessas janelas esconde o mesmo medo que o meu, a mesma angústia, a mesma aflição? Não consigo ver, só contar. E de uma em uma o vazio toma conta de mim. Sinto minha respiração e a solidão a devorar.

Solidão.

Antes, quando eu contava estrelas, eu pensava que solidão fosse estar sozinha. E não tinha ninguém mais sozinha do que eu. Mas essa solitude é algo que se aprende. Somos condenados a ela. Assim como o tempo não para, não há como impedir de se estar só. Não há um aprendizado que não se faça sozinho. Não há como entender nada a não ser sozinha. E eu aprendi.
Será que em alguma dessas janelas tem alguém que se sinta assim? Ou será que logo ali existam apenas idiotas que não enxergam? Que ali todos sejam amados e esqueçam de que vieram ao mundo sozinhos. Não sei. Amar, ser amado. Retribuir carinho. Desejar...
Talvez, a pior solidão é a de não ser amada.

(rascunho extraído de um conto recém escrito por renato possidônio, essa pessoa que vos fala)

Calvin


Adoro tirinhas. Algumas são bem irônicas e humoradas e tenho como preferidas as do Calvin e Haroldo e também as do Snoopy. Aliás, um personagem adorável, não acham?
Essa tirinha daí de cima, eu encontrei num blog dedicado ao Calvin.

Isso é tão renatiano...

O Sótão
Sempre se perguntava o que poderia ter no pequeno sótão de sua casa. Uma construção antiga, toda em madeira. Austera e rígida. Aconchegante como todo lar deve ser e protetor do inverno devastador e do verão não tão quente; algo que já começava a mudar por conta do aquecimento da terra a que sempre havia escutado. Por fora conseguia ver o telhado apontado em direção ao céu, com duas abas simetricamente posicionadas com pequenas telhas acinzentadas. Escorregar por entre as telhas e mergulhar no gramado seria fantástico, desconsiderando a probabilidade disto acontecer causando algum ferimento. Da escadaria que ligava o hall central aos aposentos de dormir; no último lance de escadas, no teto, um alçapão dava acesso ao espaço nunca explorado. Sabia que seu pai guardava pequenos objetos ali, mas nunca havia de fato entrado no sótão. Pensou um instante se não poderia ser um lugar mágico. Se talvez funcionasse como um portal que a levasse às terras mais afastadas da imaginação e a levaria para dançar com seres encantados e criaturas engraçadas, que a estenderiam tapetes coloridos, e a levariam para rodar por entre as macieiras e a tarde se tornasse uma grande festa de celebração a ela e a sua felicidade.Gostava de imaginar que seria assim. Pensava ainda que no sótão pudesse existir um mundo inteiro de céu anis, com flores amarelas num grande campo de girassóis, maior do que jamais havia visto. Onde ela pudesse correr por entre todas as flores, que a saudariam numa dança sublime, sentindo o vento em seu rosto e o perfume de suas amigas. Ali, onde os girassóis sumiam no horizonte e fugiam do alcance de seus olhos quando tocavam o firmamento, as cores do mundo eram sempre vivas, como uma tarde de outono. Acreditava ainda que pudesse voar pelo céu e mergulhar na imensidão de pétalas amarelas, que a receberiam de forma suave e doce, e que suas folhas a envolvessem como num abraço carinhoso. E quando a noite caísse, e a lua se impusesse no espaço, trazendo milhares e milhares de estrelas brilhantes, iluminando a noite escura, no alto de uma colina de grama macia, ela e seus amigos encantados pudessem entender das grandiosidades do mundo. Dalí, daquele lugar fantástico, a consciência se faria mais presente, e a noite escura se ligando ao espaço permitia que seus olhos se dessem conta de que era parte desse todo, de que estava ligada diretamente a tudo e que, sim havia a maior certeza de todas, fazia e era parte do mundo. A escada de madeira, com degraus estreitos e pintados em branco, um pouco empoeirados por ficarem sempre escondidos no alçapão da casa, abriam caminho para um quadrado escuro ao qual nunca havia cruzado. Raramente via o alçapão aberto e as escadas baixadas. Mas sempre que cruzava com a pequena porta fechada, pensava no que poderia ter ali. Mas naquele dia, já não pensava mais assim e desejou, com toda força, que o seu mundo continuasse a existir. Para ela era melhor não abrir aquela porta. Era melhor aquele quadrado escuro permanecer inexplorado para que cada dia, pudesse brincar mais com seus girassóis. E assim foi.

Balé da Cidade de São Paulo


Assisti no Teatro Municipal de São Paulo o espetáculo do Balé da Cidade "Canela Fina". Na verdade, uma das quatro coreografias apresentada pela cia. Os movimentos são incríveis e constrói-se imagens bastante fortes em meio a muita canela e um delicioso aroma.


CANELA FINA
Coreografia criada por Cayetano Soto para a Companhia 1 do BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO.

Segundo o coreógrafo Cayetano Soto, “canela fina” é uma expressão muito antiga usada pelo povo espanhol para se referir a algo ou alguém que é muito sensual e desejável. “A canela é especiaria milenar que contém um aroma muito sensual e há muitos séculos é utilizada como afrodisíaco”, diz.

“Durante o espetáculo, esse elemento será o estímulo que transmitirá as sensações ligadas em primeiro lugar para utilizar como uma tormenta de chuva e em segundo por seu aroma tão peculiar e penetrante”.

Etologie

Recentemente atuei em um curta-metragem onde também tive a possibilidade de desenvolver o roteiro que com a ajuda do diretor acabou passando por algumas adaptações durante o processo de produção. O trabalho ficou lindo mas ainda não está completamente pronto. Entretanto, abaixo segue uma cena inserida no curta. São poesias extraídas do livro 'Ants Have Sex in Your Beer' de David Shrigley.
Com Marcelo Thomaz, Tatiane Zucato e Renato Possidônio.

Isso é tão renatiano...

Apesar do forte calor do fim de verão, do céu tomado por um azul tão intenso que qualquer pessoa consciente de si teria vontade de mergulhar na sua imensidão e dos tons alaranjados do cair do sol que já se despedia para brilhar em outros jardins as cores das folhas e das copas das árvores já não tinham mais a mesma intensidade de sempre. Era como se tudo estivesse encoberto por um imenso véu, estendido por milhas e milhas, pelas mãos de alguém que já não queria mais a luz dos dias ensolarados e desejava que todos, dali ou daqui, vivessem na tarde gris. Uns diriam que sempre é compensador depois de tanto brilho um dia cinza para se ter uma pausa num café desses pequeninos, que os transportam para Paris ou alguma cidadezinha lá da Europa, que nem sempre sabem onde é ou quais são os seus problemas físicos, mas que decididamente, seria melhor do que estar ali. Limitando-se a enxergarem o prazer de se estar ali e reconhecer em si mesmo um ser único, integrante de todo universo. Mas isso não importa perto da cidade de coordenadas geográficas desconhecidas. Mesmo assim, essas mulheres e homens se firmam em acreditar que o café possa ser proveitoso ainda que estejam apenas ali, onde têm de estar. Outro grupo de pequenas senhoras com o pescoço enfeitado por bolinhas brancas achatadas nas pontas e presas umas do lado das outras por uma corrente invisível, de casaquinhos finos e óculos de sol de lentes marrons e também de senhores de camisas e boinas cuidadosamente colocadas para que o sol não queime suas cabeças já expostas a essa altura da idade, também devidamente distintos como as senhoras, diriam que tardes assim nem sempre são proveitosas. Talvez por conta das muitas já vividas, não reconheçam a graça e, quase que unanimemente, escuta-se de suas bocas a profecia da chuva que se aproxima e que fatalmente cairá sobre a cabeça de todos, sejam jovens, velhos, pobres, ricos, indigentes ou simplesmente... Gente. Todos transeuntes que por ali passam e que já sentem a garoa repousando na pele e nos pêlos.
Imaginava quem tivera ordenado tal fardo àquela tarde. Por que tivera nascido tão bela e esplendida, casando em perfeita harmonia com o sol, mostrando-se plena, feliz e quente. Por que alguém jogaria tamanho peso em suas costas e não permitiria que ela, a Tarde, se despedisse de forma estável sobre o firmamento. Será que algum desencontro do acaso ou alguma mágoa perdida há muito tempo teriam voltado à tona? Ou talvez alguma grande frustração de não se reconhecer como plena tenha irrompido o céu e, naquele momento, naquele exato momento, seu coração tenha se comprimido, se espremido, se torcido de uma dor tão latente e pungente que a tenha devastado de maneira tão profunda e que nada a faria se despedir e passar à Noite seu posto de forma incólume. Se pudesse, perguntaria à Tarde o motivo de tanto desespero e tentaria consolá-la. Mas já não era mais possível. A Tarde já chorava e chorava também seus olhos. Que o sol da próxima tarde brilhe para todos, pensou, buscando um abrigo diante da melancolia de sua amiga e também diante da sua. Alguns transeuntes ainda insistiam em correr por entre as lágrimas. Não quis arriscar, dado à força com que vinha a tristeza da Tarde.

Isso é tão renatiano...

Teatro Bom - Teatro Ruim
Eu não me lembro ao certo quando me apaixonei pelo teatro. O
que tenho certeza é que desde pequeno sempre me senti
diferente dos meus amiguinhos de escola e da vizinhança.
Imaginação fértil, criador de histórias e uma capacidade
assustadora de introspecção que me levavam para uma espécie
de mundo paralelo, como uma arena onde eu pudesse criar o
que bem entendesse. Quase um esquizofrênico que não se
relacionava com o exterior. E vamos ao psicólogo, vamos à
análise e conversas de horas para diagnosticar que sempre
fui perfeitamente saudável, sendo apenas uma criança
reservada e tímida. Hoje posso perceber com clareza que
durante muito tempo, devo dizer minha infância inteira e
parte da adolescência, vivi muito mais o plano interno do
que o externo e o teatro é para mim um canal para conseguir
equalizar tais universos. É se conhecer e tentar entender as
relações humanas e crescer a partir delas; enriquecer o
pensamento e transformar ideais em voz. Daí meu interesse
pelo lúdico; pela caixa preta que nos possibilita sermos
maiores ou menores, criaturas esdrúxulas ou refinadas. Ao
fato de propor para a platéia e conduzi-la a uma viagem.
Isso tudo é apaixonante. Fora todo o trabalho do ator que se
entrega plenamente e se coloca diante de um público com suas
propostas, seus gestos, sua partitura vocal e de corpo por
inteiro.
Como é gratificante criar. Tomar aquilo como seu, se
apropriar de tal personagem e transportar para linguagens
cênicas diversificadas.
Nunca pensei que em algum desses casos me sentiria castrado. Como
se o que eu fosse propor em cena estivesse errado e eu
tivesse que me adequar aos moldes estabelecidos. Sim! O
conflito é esse: me encaixar em algo que não sei se acredito
muito e desenvolver um trabalho tão próximo da realidade
cotidiana que chega a ser chato e até banal do ponto de
vista criativo.
Mas me pergunto, como espectador, qual a graça de se ver um
espetáculo onde atores discutem o drama como se estivessem
na sala de suas casas, segurando xícaras com chá quente em
volta da mesa do café da manhã, com textos
hiper-naturalistas e cenário impecável, tal qual uma novela?
Para mim, nenhuma! Quero ser instigado. Ver essa cena do chá
sobre outra óptica, ser transportado para outros mundos,
analisar e pensar no que é subjetivo, no que os atores estão
falando, nas verdades dos autores. Isso para mim é
fascinante. Sair do teatro com a sensação de que aprendi
algo novo e de que estou SIM pensando. Por que todos nós
estamos vivos e temos a capacidade de pensar, de transportar
idéias, de concordar ou discordar, de querer ou não querer e
até de se revoltar com o que está sendo proposto e
simplesmente não aceitar. Mas está ali. Dentro de você
alguma coisa aconteceu quando se vê um bom teatro. E isso é
gratificante para ambos os lados. Tanto para quem se entrega
ao palco como para quem vê. E é isso o que eu quero. Quero
mais. Quero propor com meu corpo, quero imagens construídas
através da minha subjetividade, da minha vivência, do meu
estudo, quero um olhar diferente em relação ao cotidiano.
Será que esse novo teatro é importante e interessante
exatamente porque propõem o pensamento do público de maneira
superficial?
Como se as pessoas não quisessem ouvir verdades ou até as
escutem, mas que seja de forma mastigada, porque afinal de
contas, vivemos em tempos de preguiça.
Será que propor o pensamento tem que ser menor do que o
entretenimento? Se o for, eu concluo que isso tudo é muito
triste e talvez seja melhor ficar em casa assistindo a
novela. Afinal, no mundo de interatividade que estamos, a
gente pode até propor se o mocinho termina com a mocinha,
claro que de uma forma muito real e naturalista.

Chegou no Brasil

O carro super compacto "Smart", bem comum pela europa, acaba de chegar no Brasil. Eu já ví alguns modelos andando pelas ruas de São Paulo, que já são tremendamente engarrafadas e tendem a piorar. Pelo menos o modelo que é bem pequenininho cabe em qualquer vaga, só o preço que não é muito compacto no mercado brasileiro.
Na foto, minha querida irmã demonstrando o tamanho do carrinho numa das bucólicas ruas de Lisboa

Salve salve mundo virtual!!

Por bons tempos fiquei fora do universo cibernético em se tratando de blogs e afins. Só mesmo o email que não dá mais para deixar de lado e que, para mim, é a melhor ferramenta de todas.
Mas pra (re) inaugurar o blog, escolhi um texto já bem conhecido mas que nunca perdeu o encanto pra mim e me faz ter orgulho da profissão.

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Por mais que as cruentas inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o suficiente para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu na sua vida.
Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo, tira-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita, e inquieta-lo e comove-lo para as lutas comuns da libertação.
Os atores têm esse Dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e autores, têm esse Dom. Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade,. Vai Ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que ator tenha muita coragem muita humildade e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de suas personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.
Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor. Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem Ter – não é o dinheiro, não são os aplausos – é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica.

Plinio Marcos
Do livro “Canções e Reflexões de um Palhaço”