O grito ecoou por entre as frestas das janelas, pelos vãos das portas entre abertas, pela noite quente e tranquila. Nem o duro tijolo misturado com o sólido concreto impediram a voz sem identidade de adentrar impetuosamente nas casas dos cidadãos honestos, desejosos da noite para descansar. Noite escura e cruel. Silenciosa. Noite inimiga que não quer ser interrompida pelo grito. Que não está acostumada ao barulho e a ser contrariada. Noite impassível que nada pode fazer, a não ser ostentar sua escuridão e reinar nos céus. Sentiu-se desafiada pelo grito. Esse rápido, esperto, agudo, alto e sonoro grito. Partiu pela noite, faceiro como só ele poderia ser e sentia que quem o gerou queria que todos o ouvissem, que entrasse sem ser anunciado em cada lar, em todos os cantos, em cada ouvido. Pela sua intensidade, sabia que seu dono queria ainda que percorresse o mundo. O grito descobriu que a tarefa era difícil logo que saiu dos pulmões e garganta, carregado de ar e sonoridade. Procurou se espalhar. Ali no vizinho, por entre os prédios, encontrou as copas das árvores, alguns animais, o asfalto. Ele tinha a visão além daquele quadro. Queria vencer a noite e chegar até onde ela não mais existia. Foi ficando pequeno. Perdendo espaço. Lutou por mais alguns segundos até não mais agüentar. Assim, não havia mais nada a fazer, a não ser render-se à noite preta que continuava a reinar, soberana e indiferente.
O Grito
11 fevereiro 2010 às 02:52 Postado por Renatiano
Esperança
03 fevereiro 2010 às 14:29 Postado por Renatiano
É preciso ter esperança. Agarrar-se a ela e não deixar de forma alguma que ela morra. Hoje, a minha esperança é de novo a meninazinha de olhos verdes recém saltada do décimo segundo andar.
Esperança
Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Isso é tão renatiano…
02 fevereiro 2010 às 15:26 Postado por Renatiano
Tommy Little Field ainda se via envolvido em seus pensamento mesmo após fechar seu diário ao ouvir a voz da pequena Nancy chama-lo do outro lado do lago. Era uma bela tarde de outono perfeita para se sentar ao pé de um jambeiro e apreciar o sol indo de encontro com o horizonte, deixando o lago de águas calmas como um grande manto dourado que se estendia até aonde se podia enxergar alguns outros arbustos que complementavam a pequena casa de madeira, da onde, nesse momento se sentia um delicioso aroma de canela e algo acabado de sair do forno.
A pequena Nancy ainda chamava por Tommy, correndo de um lado ao outro e acenando com suas delicadas mãos, em seu vestido rosa:
“Tommy, Tommy! Venha! Estamos todos esperando para comer os biscoitos da Senhora May.”
“estou indo”, respondeu Tommy, se levantando e circulando o lago, em passos rápidos, em direção à casa, de onde se sentia o cheiro de fartura em seu café.
Marcadores: Isso é tão renatiano... 0 comentários