Pois bem
Para tantos, qual a resposta de “o que vale na vida?”
Muitos diriam com certeza que é a amizade, sinceridade, felicidade e qualquer outra palavra sentimentalóide terminada em “ade”; sem esquecer, por certo daquela palavrinha que é tema de novelas, filmes e épicos literários. Sim caríssimos, estou falando do amor. Olha que lindo! O amor que faz todo ser humano levantar de manhã e ter forças pra seguir com o dia. O amor que se enxerga no sorriso de seus familiares, na beleza do dia que acaba de nascer, nos pássaros cantando, na beleza da vida. Ah, que poético! Isso até me comove. O amor é realmente lindo, mas não enche barriga. Quem que dizia isso? Ih, não sei direito, mas acho que sempre ouvi isso da minha mãe. Sábia! Amor não enche barriga e nem sequer ajuda a pagar um plano médico caso você tenha uma cólica intestinal no meio de uma noite chuvosa e solitária. Mas reconforta. Te faz sentir querido e com forças para continuar. Mas esse mesmo amor também exerce pressão. É por amor, a você e às pessoas que você ama, que você tem que ser digno, que você tem que ter caráter e que você tem que proporcionar uma bela vida aos filhos, passar valores, oferecer educação, construir um ser humano sóbrio no sentido mais literal que essa palavra passe. Você precisará também reconfortar os mais velhos e possibilitar uma vida repleta de conquistas. Conquistas, ao meu ver, não só sentimentais por que lembrando lá aquele ditado sábio: “amor não enche barriga”. E é por essa pressão da família e pressão própria/interna que nos voltamos pra outro valor, esse sim capitalista. Só em português nós temos uma infinidade de sinônimos. Vamos lá? Dim dim, tutu, bufunfa, faz me rir, bolada, grana, graninha, verdinha, as importadas “cash e Money”, capital, dinheiro, dinheirinho...
Por cifrão a gente corre atrás e trabalha, produz, compra e emprega tudo para engrandecer o amor. É por conta dele que sei que para os italianos a palavra original é no plural (soldi); espertos os italianos: pense em fartura e nunca em uma nota só. E é por conta do soldi que tenho a lucidez para escrever esse texto e até para pensar na condição limitada humana. Irônico isso, não? É necessário correr atrás de um para suprir o outro.
E chego a outra pergunta. Para que lado correr? Amar demais algo e depositar toda sua energia sobre aquilo a ponto dos seus pensamentos só focarem a conquista dos objetivos, ou batalhar e viver a labuta diária para conseguir alguns trocados, deixando a vida te levar para rumos que talvez nunca tenham sido imaginados por você? O fato é que tudo é orgânico. A vida não pára para que possamos pensar e bolar uma estratégia. É tudo feito enquanto o tempo está passando e fico com a impressão de que a certeza de que se teve sucesso venha só com a velhice mesmo. Ou talvez com a morte. Mas daí, de que vale? Você nem vai poder pensar a respeito, ou talvez sua consciência espiritual possa voltar e olhar o que se traçou ; eu até acredito! Na velhice, veja bem, por amor a você mesmo é óbvio que você vai alardear para todos que valeu a pena. Afinal, quem quer se sentir um derrotado? E depois tem ainda a condição de acomodação humana: “a gente não tem outro tipo de vida, fica com aquele mesmo”.
Ainda não consigo responder essas questões. Ouvi tantos “nãos” esse ano que perdi a conta. Mas aprendi com cada um deles, com cada experiência e fico muito feliz por ter a possibilidade de poder ir atrás deles, por que fazem parte dos meus objetivos e dos meus anseios profissionais. Mas todos eles colecionados na estante da minha vida ficam guardados com certa amargura por uma expectativa quebrada e medo de não conseguir. Medo do tempo passar e eu não ter feito nada e não ter conquistado nada. Hoje foi mais um dia de “não” resposta para mim. Mais uma vez expectativas quebradas em um segundo, mais uma vez a preocupação de não atender o tamanho investimento que me fazem até hoje. Mais uma vez a impossibilidade do começo das minhas estratégias. E mais uma vez, a insegurança de não ter a certeza de nada e não ter o controle de nem um passo da minha vida.
Como o universo é irônico, ainda escolho uma profissão que tem em seu repertório uns 80% de tema onde se aborda o amor. Que sublime! E é por ele que eu vou continuar...Mesmo que me levo à loucura em alguns dias quando peso na balança se sou um bom investimento, com um retorno certo e próspero.
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