O Sótão
Sempre se perguntava o que poderia ter no pequeno sótão de sua casa. Uma construção antiga, toda em madeira. Austera e rígida. Aconchegante como todo lar deve ser e protetor do inverno devastador e do verão não tão quente; algo que já começava a mudar por conta do aquecimento da terra a que sempre havia escutado. Por fora conseguia ver o telhado apontado em direção ao céu, com duas abas simetricamente posicionadas com pequenas telhas acinzentadas. Escorregar por entre as telhas e mergulhar no gramado seria fantástico, desconsiderando a probabilidade disto acontecer causando algum ferimento. Da escadaria que ligava o hall central aos aposentos de dormir; no último lance de escadas, no teto, um alçapão dava acesso ao espaço nunca explorado. Sabia que seu pai guardava pequenos objetos ali, mas nunca havia de fato entrado no sótão. Pensou um instante se não poderia ser um lugar mágico. Se talvez funcionasse como um portal que a levasse às terras mais afastadas da imaginação e a levaria para dançar com seres encantados e criaturas engraçadas, que a estenderiam tapetes coloridos, e a levariam para rodar por entre as macieiras e a tarde se tornasse uma grande festa de celebração a ela e a sua felicidade.Gostava de imaginar que seria assim. Pensava ainda que no sótão pudesse existir um mundo inteiro de céu anis, com flores amarelas num grande campo de girassóis, maior do que jamais havia visto. Onde ela pudesse correr por entre todas as flores, que a saudariam numa dança sublime, sentindo o vento em seu rosto e o perfume de suas amigas. Ali, onde os girassóis sumiam no horizonte e fugiam do alcance de seus olhos quando tocavam o firmamento, as cores do mundo eram sempre vivas, como uma tarde de outono. Acreditava ainda que pudesse voar pelo céu e mergulhar na imensidão de pétalas amarelas, que a receberiam de forma suave e doce, e que suas folhas a envolvessem como num abraço carinhoso. E quando a noite caísse, e a lua se impusesse no espaço, trazendo milhares e milhares de estrelas brilhantes, iluminando a noite escura, no alto de uma colina de grama macia, ela e seus amigos encantados pudessem entender das grandiosidades do mundo. Dalí, daquele lugar fantástico, a consciência se faria mais presente, e a noite escura se ligando ao espaço permitia que seus olhos se dessem conta de que era parte desse todo, de que estava ligada diretamente a tudo e que, sim havia a maior certeza de todas, fazia e era parte do mundo. A escada de madeira, com degraus estreitos e pintados em branco, um pouco empoeirados por ficarem sempre escondidos no alçapão da casa, abriam caminho para um quadrado escuro ao qual nunca havia cruzado. Raramente via o alçapão aberto e as escadas baixadas. Mas sempre que cruzava com a pequena porta fechada, pensava no que poderia ter ali. Mas naquele dia, já não pensava mais assim e desejou, com toda força, que o seu mundo continuasse a existir. Para ela era melhor não abrir aquela porta. Era melhor aquele quadrado escuro permanecer inexplorado para que cada dia, pudesse brincar mais com seus girassóis. E assim foi.
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